O Ideal da Srta. Mason

O Ideal da Srta. Mason

Tradução do “Miss Mason’s Ideal: Its Breadth and Balance” para o português por Paula Lima e Gabriely Cruvinel ©2018.

Por H. E. Wix
The Parents’ Review, 1923, pp. 411–420

A maioria de nós aqui hoje devem ter conhecido a Srta. Mason pessoalmente e provavelmente o resto de nós a conhecia tão bem por meio de correspondências e vários ramos do seu trabalho que também eles a consideravam como uma amiga pessoal. Talvez nunca tenha vivido alguém que, da forma mais rápida e duradoura, tenha conquistado a amizade de pessoas que nunca viu. Professores que só souberam dela por alguns meses sentiram o vazio de sua perda com intensa curiosidade; o mesmo aconteceu com pais, cujo conhecimento sobre ela estava confinado à gratidão por seu ensino nos livros Home Education [Educação no Lar, Vol. 1] e Parents and Children [Pais e Filhos, Vol. 2].

Abrangência e equilíbrio talvez sejam as principais marcas do ensino da Srta. Mason, de modo que há muitos pontos de vista dos quais podemos tentar estudá-lo. Certamente, poucos educadores solucionaram tanto uma teoria quanto uma filosofia da educação—em seu sentido mais amplo—além de um método concreto prático de ensino. Existem dois lados principais no ideal da Srta. Mason, frequentemente separados, mas não realmente separáveis. Primeiro, a formação da criança, a pessoa; o ensino do hábito, o treinamento da vontade, a evolução gradual do caráter. Fundada sobre isso e sobre muito mais, está a teoria e a prática da educação da Srta. Mason em seu sentido mais restrito; como ensinar as crianças em seus anos escolares.

O treinamento da pessoa é naturalmente um assunto mais silencioso do que a transmissão de conhecimento; nós podemos realizar exposições do trabalho feito pelas crianças das escolas P.U. (União de Pais), mas o que não podemos fazer é exibir o treinamento de caráter de nossos filhos. Essa parece ser uma razão para a ideia estranhamente equivocada de que a Srta. Mason se importava mais com conhecimento do que com caráter. Não é, contudo, a razão completa.

Hoje em dia ouvimos muito—talvez muito mesmo—sobre liberdade, individualidade, treinamento dos sentidos e a importância dos primeiros hábitos do bebê, e assim por diante. Mas estas não são coisas novas para os membros do P.N.E.U [União Nacional de Pais Educadores]. Home Education [Educação no Lar, Vol. 1], escrito há quase trinta anos, a Srta. Mason nos ensinou que desde os primeiros dias o bebê deveria aprender o significado de “deve” e “não deve”, que nunca é cedo demais ensinar hábitos físicos de regularidade no sono, alimentação, etc. Em seu panfleto “As Crianças Nascem Pessoas”, lemos que “a liberdade é o direito mais sagrado e inalienável” de uma criança; que “a opinião pública é uma escravidão insuportável, privando uma pessoa de seu direito individual de pensar por si mesma”; que “uma mente que não pensa e pensa seus próprios pensamentos, é como um braço paralisado ou um olho cego.”

Muito mais poderia ser citado para mostrar quão importante um caráter sólido, um caráter verdadeiro, mantido no ideal da Srta. Mason, e quão maravilhosamente esse ideal permeou o pensamento educado. De fato, algumas pessoas que se apropriaram de uma ou outra parte de seus ensinamentos, não sabendo de quem era  e sendo permitido fugir com eles, perderam o equilíbrio e a sensatez que marcam todo o ensinamento da Sra. Mason.

De fato, muito do que a Srta. Mason ensinou sobre a educação de crianças passou a ser posse comum à metade pensante da nação, que esquecemos a quem nós devemos, que é exatamente o que ela mesma desejaria, o que de fato ela pareceu ter sido destinada. E mais do que isso, seu ensino harmoniza tão bem com o pano de fundo da vida sã, que quando mais está presente, menos notamos. Qualquer um que pegue o seu livro “Home Education [Educação no Lar, Vol. 1]” e leia-o pela primeira vez fica impressionado com a sensatez dele todo. “É claro” dizemos “é assim que devemos fazer, por que não pensamos nisso antes?” Esta é a ajuda pela qual estamos famintos há anos; até mesmo o que já sabíamos, provavelmente devemos a ela também.

A seguinte história verdadeira pode servir como uma ilustração disso. Havia uma jovem mãe que desejava ingressar na P.N.E.U. e assim obter ajuda na educação de seus bebês. Mas uma amiga mais velha tentou dissuadi-la: “Minha querida, não seja tão boba; todas essas sociedades são cheias de modismos. Agora olhe só para a Sra. Fulana; você conhece uma família melhor ou mais sensata que a dela? Eu nunca ouvi dizer que ela pertenceu a qualquer nova sociedade educacional.”—“Oh, mas,” respondeu a jovem mãe, “foi ela quem me contou da P.N.E.U. e ela diz que deve tudo a ela.”

Na verdade, não poderia haver ninguém mais livre de “modismos” do que Srta. Mason. Ela costumava nos dizer que não devíamos tentar desenvolver a individualidade, pois era assim que as manivelas eram feitas, mas que deveríamos permitir liberdade à “pessoa”, espaço para ela pensar seus próprios pensamentos.

Assim, muito do que era tão novo quando a Srta. Mason começou a ensinar, agora é parte integrante do conhecimento educacional comum, e sendo assim, provavelmente não pareceu mais necessário à Stra. Mason reiterar continuamente o que já tinha sido aprendido. E por isso algumas pessoas dizem: “Srta. Mason se importava mais com o conhecimento do que com o caráter.” Mas ela sustentava, na verdade, que um era impossível sem o outro. Sem conhecimento não poderia haver caráter. Pois o caráter vem do pensamento e os pensamentos vêm do que sabemos, o conhecimento faz o caráter. Isso nos mostra que uma triste falácia está subjacente ao argumento de que não importa o que aprendemos, mas apenas como aprendemos.

Mas a Srta. Mason não quis dizer exatamente o mesmo que o homem comum diz quando falava de conhecimento. Em “Basis of National Strength”, ela nos dá uma definição mais esclarecedora de conhecimento. Ela diz “é um estado fora do qual pessoas podem passar e para o qual elas podem retornar, mas nunca algo que se pode retirar em um estoque.” Para ela, o conhecimento estava tão ligado ao “viver” que os dois eram inseparáveis. Novamente, no mesmo panfleto, a Srta. Mason nos dá uma definição negativa de conhecimento. “Não é” ela diz, “instrução, informação, erudição, nem uma memória bem armazenada.” “Para muitos de nós” ela diz em outro lugar “o conhecimento é uma coisa de farrapos e remendos, conhecimento disso e daquilo, entremeados de lacunas.” E novamente, “É talvez um belo conjunto, uma grande unidade, abraçando Deus, o Homem e o Universo, mas tendo muitas partes…, todas são necessárias e cada uma tem suas funções.” “Conhecimento é a ciência da proporção das coisas.” Mais uma citação: “O conhecimento fundamental é o conhecimento de Deus e enquanto ignoramos esse conhecimento principal, Ciência, Natureza, Literatura e História, todos permanecem mudos.”

Então, vemos que o conhecimento para a Srta. Mason era uma coisa tremenda—na verdade, não uma coisa, mas um estado, assim como a amizade é um estado. É uma condição de amizade feliz com Deus, com o homem e com a natureza, na qual a mente crescerá, se expandirá e florescerá tão feliz quanto uma planta em seu clima nativo; a mente estando em contato direto com outras mentes como uma planta é cercada por ar; assim, a mente bebe do Divino, dos seus semelhantes e da natureza tudo o que é necessário para o seu completo sustento… É interessante também lembrar como Nosso Senhor sempre ensinou as pessoas que vieram a Ele; ele não criticou ou culpou, mas Ele iluminou a compreensão delas; deu-lhes conhecimento verdadeiro para sua orientação.

Posso repetir essa definição? Isso deixa tão claro como, na filosofia de Srta. Mason, o caráter não pode existir sem conhecimento. “O conhecimento é um estado fora do qual as pessoas podem passar e para o qual podem retornar, mas nunca algo que se pode retirar em um estoque” …Isto é, o conhecimento verdadeiro não pode ser usado como um servo, uma muleta, uma vara de salto para ser jogada de lado quando nós tivermos passado naquele exame final e tivermos “terminado.” Quando o conhecimento é tratado dessa forma se torna mera informação sobre algum assunto ou assuntos particulares—e oh! Quão maçante é uma pessoa “bem informada” e como não confiáveis são suas opiniões sobre as pessoas e sobre a vida! É um resultado óbvio, não porque ela é uma especialista, não porque passou em exames, mas por causa de sua atitude em relação ao conhecimento—algo adquirido apenas para ser usado.

Na própria Srta. Mason, temos o mais maravilhoso exemplo de seu  ensino. Nós mesmos estamos, na maioria das vezes, tão longe do “conhecimento externo” que nos perguntamos e tateamos quando decisões precisam ser tomadas, mas, como nos diz um artigo da Review de Abril, “ela sempre soube sem um segundo de hesitação qual era a coisa certa” e depois o acerto de sua decisão era óbvio para os outros.

Mas a ideia de educação da Srta. Mason não era apenas aquilo, era uma atmosfera e uma vida, mas também uma disciplina. “Sem trabalho não há lucro”, ela dizia; mas enfatizar este aspecto não preocupa este artigo; embora ele nunca deve ser esquecido, já que ninguém acreditava mais fortemente do que ela, que conhecimento é apenas para aqueles que têm a vontade de trabalhar seriamente por ele e não pode ser dado gratuitamente por ninguém.

Talvez eu tenha sido capaz de mostrar vagamente a incrível abrangência do ideal da Srta. Mason. Mas quanto ao equilíbrio, há alguns que parecem pensar que ela priorizava o lado das letras e não das coisas. Bem, pode ser. Ela acreditava que o conhecimento de Deus, de nossos semelhantes e da natureza viva era mais estimulante que o conhecimento das coisas. Mas ela, como algumas pessoas imaginam, não deixava a ciência, por exemplo, fora de seu esquema de educação. Na verdade, ela diz: “Para a nossa geração, a ciência parece ser o caminho do avanço intelectual”, embora, “A maior parte da ciência, como ela é ensinada, nos deixa frios. Mas a falha não está na ciência, e sim na nossa apresentação dela.” E novamente, “A Ciência Natural deve ser ensinada através de trabalho de campo ou outro canal imediato. Huxley nos disse há muito tempo que a ciência deveria ser ensinada nas escolas como informação comum.”

Ela considerava importantes os exercícios físicos e o artesanato, porém, mais como adjuntos à educação do que como parte integrante da educação. Ela os chama de “excelente treinamento.”

Matemática e música ela colocava em uma mesma classe, dois ramos de conhecimento cada um com um discurso próprio; um discurso, como ela colocou, “de primorosa clareza.”

Quanto aos métodos de ensinar essas disciplinas, a Srta. Mason não reinvindicou nenhum conhecimento especial. É por essa razão provavelmente que algumas pessoas pensam que elas não estão incluídas no seu ideal de educação, mas quando nos lembramos, como ela sempre fez, de que “conhecimento é verdade”, sabemos imediatamente que nenhuma parte da verdade pode ser omitida sem naufragar o todo. E de alguma maneira maravilhosa, as crianças da P.U.S (Parent Union School) percebem que o conhecimento é um todo equilibrado; que ensino bíblico, história, geografia, botânica e todas as outras disciplinas são, na verdade, diferentes facetas da mesma coisa. De fato, pode ser que aqui resida a principal característica de uma escola da P.N.E.U; pois é apenas outra maneira de dizer que as crianças têm um currículo amplo e que adquirem conhecimento por si mesmas e para seu próprio bem. Tudo isso resulta em um verdadeiro prazer e amor pelo conhecimento, que é muito agradável de se testemunhar, e certamente nenhuma criança do P.N.E.U exibe tédio ou fica aliviada quando as aulas acabam ou desiste de aprender ou ler quando “graças a Deus”, como dizemos, voltam para casa.

Qual é o segredo disso? Eu não sei. O que não podemos fazer com o ideal da Srta. Mason é reduzi-lo aos termos mais baixos e, na medida em que tentamos, mais o deturpamos e o interpretamos mal. Mas parte do segredo está, sem dúvida, nos Programas de Trabalho; quanto mais tempo trabalhamos nesses maravilhosos programas, mais percebemos quão equilibrados eles são; quão satisfatório para a mente faminta; como os assuntos se encaixam; como é difícil ensinar história apenas no tempo da história, como ela “fluirá” para geografia,  literatura ou mesmo para canais inesperados como a aritmética ou a botânica.

Todos nós sabemos quão delicado é este equilíbrio; tal e tal mudança, que parece tão claramente sensível, às vezes o colocaria seriamente em perigo. De alguma forma, mesmo pequenas imperfeições parecem positivamente ajudar a manter o equilíbrio; certamente, pequenas mudanças constantes no programa são necessárias, porque, do contrário, elas endureceriam e se tornariam rígidas e sem vida. E os programas crescem e mudam sempre; olhando para trás ao longo de vinte anos, é incrível como eles se desenvolveram—o senso de equilíbrio, talvez aumentando até mesmo na Srta. Mason durante todo o tempo. Isso pode explicar por que, como lemos na Review de Abril, a Srta. Mason não gostava tanto de organizações, formulários impressos, cartas estereotipadas, índices de cartões e toda a parafernália de um negócio sistematizado. Onde o fulcro é rígido não pode haver equilíbrio.

Olhando através desses programas antigos, é muito interessante observar como disciplinas desaparecem, reaparecem e desapareceram novamente. Arquitetura por exemplo; e astronomia; geologia e fisiografia. Com um maravilhoso senso de aptidão, a Srta. Mason organizava e reorganizava; escolhia este livro, rejeitava aquele, tentava um outro e depois o removia, ou porque não era bom o suficiente ou porque aquelas crianças infalíveis se recusavam a gostar dele.

Isto é, eles se recusavam a “narrá-lo.” Narração é, como todos sabemos, de enorme importância, não apenas porque é a soma total dos métodos da Srta. Mason, apesar de  muito mais estar incluído em seu ideal, mas porque se aproxima muito mais do trabalho do P.N.E.U do que alguns professores entendem; e porque também seu uso está se espalhando para  outras escolas, onde, no entanto, o seu significado real como “alimento para a mente” ainda não é totalmente compreendido.

Nos últimos anos, Srta. Mason, com sua grande sabedoria, deu cada vez mais ênfase à narração, pois nela descobrira a pedra fundamental da aprendizagem, que fornece, quando os livros certos são usados, a comida sem a qual a mente não pode crescer ou prosperar. Mas não podemos reduzir o método da Srta. Mason aos seus termos mais básicos; não podemos dizer que nas escolas da P.N.E.U. “Ensinar é narração”; pois, embora não seja possível aplicar o Método da Srta. Mason sem ela, é eminentemente possível praticar uma espécie de narração e, no entanto, estar longe do seu ensino.

Talvez a raiz da questão seja que a narração inclui muito mais do que apenas recontar o que foi lido.

Levamos nossos filhos para um passeio pela natureza. Eles conversam, imaginam, discutem, pintam pequenos esboços de seus achados, seja fóssil, concha, inseto ou flor. Eles escrevem anotações e listas do que viram. Isso é narração? Certamente. Mas eles não leram nada, embora provavelmente em momento posterior estudem algum livro para descobrir o nome ou o habitat de um ou outro de seus achados. Mas eles tiveram conhecimento direto; sem nenhuma mediação.Agora em uma escola diferente da P.N.E.U , nove em cada dez casos, cada criança seria obrigada a copiar anotações do quadro negro onde a professora escreve suas próprias observações, que seriam  hábil e muito gentilmente impostas às crianças. Aqui está uma diferença.

Consideremos Ciências. Há uma grande mudança em relação ao ensino da ciência. Costumava ser da seguinte maneira: “Se você pega assim e assim e faz assim e assim, isso e aquilo acontecerão.” Mas agora os métodos estão mudando.

Em uma escola de meninos há não muito tempo atrás, onde havia uma agradável sala de ciências, não tão grande a ponto de ser chamada “Laboratório”, os meninos estavam aprendendo o hábito de certas coisas de maneira semelhante a que as nossas crianças das P.U.S aprendem  hábitos de pássaros ou de flores. Isto é, através da observação atenta. Livros estavam lá para completar o conhecimento adquirido e um professor que conhecia tanto o assunto quanto o lugar, estava dando ajuda e conselhos discretos quando necessários. Os meninos estavam muito ocupados. Alguns estavam fazendo  experimentos, outros escreviam exatamente o que tinham feito e visto, outros faziam desenhos em seus cadernos. Isso não é “narração”? Certamente, foi cumprida a afirmação da Srta. Mason de que nós mesmos devemos trabalhar para aprender, que não sabemos coisa alguma até termos nós mesmos e individualmente “devolvido” nossas impressões. Na verdade, aqui, onde menos podemos esperar, encontramos uma mudança que a Srta. Mason ajudou a realizar. Ela também ansiava por mais livros sobre Ciências em linguagem literária; eles também parecem estar chegando.

Com o passar do tempo, provavelmente acharemos cada vez mais difícil lembrar da “abrangência e equilíbrio”, que é o assunto deste artigo. É possível quase resumir a filosofia da Srta. Mason nessas duas palavras: “Abrangência e Equilíbrio”; O Jornal The Times a chamou de “Uma pioneira da educação.” E proporcional à grandeza e importância dessas duas características, é a dificuldade de realizá-las.

É uma tentação para nós, pessoas comuns, enfatizar alguma parte às custas do resto e assim transformar uma força em uma fraqueza. Existe apenas uma maneira de evitar esse perigo. E é ler e reler os livros da Srta. Mason, constantemente, para nos lembrarmos de seus primeiros princípios, pois a partir de agora, o trabalho da Srta. Mason está em nossas mãos; Não nos atrevamos a deixar de fazer nenhum esforço para manter a verdade.

Podemos citar a “Narração”, a pedra angular, como exemplo?

No ensino de história, a metodologia aplicada nas escolas da P.N.E.U consiste apenas em ler uma parte do texto uma vez e depois permitir que um certo número de crianças—talvez de uma classe de cinquenta—narre o melhor que puder? Não é possível que tal lição, repetida tantas vezes ad infinitum, resulte em um sistema rígido?

O que é narração? Miss Mason nos diz que é “a resposta a uma questão colocada pela mente para si mesma.” Então, não pode haver momentos em que a narração possa ser um desenho ou mesmo um mapa de esboço?

Não corremos o risco de sistematizar o método insistindo que a leitura e a narração são em si mesmas para sempre suficientes? Sabemos que nunca podemos omitir a parte da lição em que a própria criança coloca em sua mente uma pergunta e a responde, na qual ela mesma realiza o ato definido de conhecer, ato no qual sua mente é alimentada. Mas deveríamos, por exemplo,nunca evitar de colocar questões que instiguem as crianças mais velhas que têm um tipo de pensamento provocador? Vamos ver o que a Srta. Mason diz. Em “School Education” (Vol.3), depois de dar um relato de narração, ela acrescenta: “Mas esta é apenas uma maneira de usar livros; outros vão enumerar as afirmações de um determinado capítulo, analisar o capítulo, dividi-lo em parágrafos sob cabeçalhos apropriados, tabular e classificar séries, rastrear a causa/conseqüência e conseqüência /causa, discernir o caráter—e perceber como o caráter e a circunstância interagem…A parte do professor é, entre outras coisas, definir as questões e tarefas que devem dar o escopo completo à atividade mental do aluno. . . Deixe o aluno escrever para si meia dúzia de perguntas que cobrem o texto estudado. Estas poucas dicas não cobrem os usos disciplinares de um bom livro escolar.”

Então, evidentemente, podemos exigir, pelo menos dos nossos alunos mais velhos, outros exercícios além de narração. Mas nunca devemos esquecer que sem narração a mente passará fome; quaisquer que sejam os exercícios disciplinares que usemos, eles devem ser complementares e nunca substitutos da narração. Exercícios físicos da mente são admiráveis, mas não alimentam a mente. Por outro lado, uma mente bem alimentada precisa de certa quantidade de exercício disciplinar às vezes, e as crianças perdem algo quando não o têm.

A Srta. Mason era uma idealista; pessoas que não percebem podem até chamá-la de “mera visionária.” Todos nós que tentamos seguir seus passos também somos idealistas, e ainda assim, por todo lado, ouvimos que aquilo que o mundo quer é uma educação sólida, prática e útil. Não existe “utilidade” para o idealista. Mas, olhando em retrospecto através da história, é inspirador e imensamente animador perceber quem mais influenciou o mundo. Não é sempre o idealista? O homem que tenta o impossível? Que homem prático de assuntos ou política, guerra ou comércio pode se comparar a Platão, Sócrates e Dante?

Pois o Espírito é mais forte que a matéria e nós, que conhecemos apenas um pouco do ensinamento de Miss Mason, sabemos que ele repousa na verdade eterna.

Em discussão no final do artigo, a Srta. Pennethorne disse que achava que poderia interessar aos membros da conferência saber como a visão da Srta.  Mason atingira as pessoas nos círculos educacionais comuns na Inglaterra. Ela percorreu tantos daqueles círculos que teve a chance de ver que uma parte das pessoas via os professores da P.N.EU. como professores de literatura e outra como professores de estudo da natureza. Muitas pessoas não perceberam que a visão da Srta. Mason era dar a cada ser humano uma chance de se expandir em todas as direções. Quase inconscientemente, as crianças que estudavam na escola percebiam isso. Por exemplo, uma menina da escola do P.N.E.U disse do seu irmão que estava em outra escola, “Tom acha que a educação é matemática e latim: eu disse a ele que é “Vidas de Plutarco” e “Estudo de Arte.”

Muitas perguntas foram feitas. Uma delas foi: “O que você deve fazer com uma criança que está  em uma escola do P.N.EU há oito meses e não consegue narrar?”

A Srta. Pennethorne disse que frequentemente lhe faziam essa pergunta. Ela geralmente achava que uma criança que não conseguia narrar em sala de aula iria para casa e contaria tudo a seu irmão ou irmã. Com as crianças que acham a narração difícil, era bom praticar com algo que fosse fácil de narrar, por exemplo, os poemas narrativos de Longfellow. Muitas vezes, também, as crianças que estavam com a língua presa escreviam bem e podiam narrar por escrito e depois ler. Com o tempo, se tornariam  capazes de narrar sem a necessidade de escrever. Às vezes, as crianças que demoravam a narrar em sala de aula podiam ser orientadas a narrar umas às outras, como é feito no sistema de grupo em grandes escolas.

Outra questão era: “Quando a lição não consiste apenas em ler e narrar, a explicação deve vir antes ou depois da narração?”

A Srta. Wix respondeu que achava que qualquer explicação deveria vir por último.

O Coronel Ward agradeceu à senhorita Wix por seu artigo extremamente interessante e disse que ela lhes mostrara como um ideal pode ser aplicado na prática.